ePrivacy and GPDR Cookie Consent by Cookie Consent Instituto REDI
  • Caderno REDI

Representatividade feminina na área de tecnologia: um legado de Ada Lovelace

  • quarta, 05 de outubro de 2022

Apesar de a  área de tecnologia ter pouca representatividade feminina, o seu início   está atrelado à contribuição de uma mulher notável do século XIX: a Condessa Ada Lovelace, conhecida como a mãe da programação. Ada era filha de Lord Byron, um reconhecido poeta britânico, porém, apesar da influência paterna despertar seu interesse pela literatura e poesia, ela mostrava, desde cedo, forte aptidão para as áreas de exatas e tecnologias. Ademais, seu status social a permitiu conhecer grandes inventores e matemáticos de sua época, o que a ajudou na realização de seus feitos. 

 

Mas, o que chama mais atenção na história de Ada é a sua figura simbólica para área de tecnologia: uma mulher, mãe, que aos 28 anos foi  precursora da computação moderna ao elaborar um plano para cálculos matemáticos complexos a ser executado pela Máquina Analítica de Babbage, plano que hoje é considerado o primeiro programa de computador da história (PETRY, 2020). 

 

Algo interessante também a ser pontuado na história de Lovelace é o apoio de sua mentora e amiga Mary Sommerville, a primeira mulher a entrar na Sociedade Real de Astronomia. As duas se conheceram quando Ada tinha apenas 17 anos e, desde o começo, Mary a incentivou a estudar matemática e tecnologia. Além disso, Mary proporcionou a entrada de Ada no meio científico e a apresentou a Charles Babbage, matemático responsável pelo desenvolvimento da Máquina Analítica, a qual seria o estopim para a pesquisa de Ada. Tal fato por si só mostra a importância que a representatividade feminina tem na identificação e formação de novas cientistas (MISS, 2021).

 

Desde Ada, muitas outras mulheres contribuíram para o avanço na área da tecnologia e deixaram seu legado como um marco histórico: Grace Hopper, Dorothy Johnson Vaughan, Clarisse Sieckenius de Souza entre outras. A presença dessas mulheres na história é a base da representatividade feminina que ainda ecoa na luta pela igualdade de gênero, principalmente, nas áreas das ciências exatas e computação.

 

No campo da tecnologia, é possível ver um aumento na presença das mulheres. Segundo os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), no Brasil, o número passou de 27,9 mil mulheres na área para 44,5 mil em 2020, significando um crescimento aproximado de 60% em cinco anos. Mesmo assim, ainda existem lacunas de oportunidade, informação e estímulo para que elas continuem em busca de cargos na área (UMOV, 2022). 

 

Um estudo divulgado pela PwC (2022), mostrou que a falta de modelos femininos colabora com estereótipos de gênero, reforçando a ideia de que a tecnologia não é para mulheres. Na pesquisa, apenas 22% dos alunos participantes souberam nomear uma mulher famosa que trabalha na área tecnologia, enquanto 34% souberam nomear uma personalidade masculina na área. 

 

O estudo também revela que somente 3% das mulheres tiveram como primeira escolha a carreira em tecnologia e que, aproximadamente, 16% tiveram carreira efetiva na área, sem contar que apenas 5% dos postos de liderança são ocupados por mulheres. Podemos enxergar, dessa maneira, que a tecnologia não é apresentada como uma área atrativa às mulheres, tanto pela baixa representatividade, quanto pela ausência de estímulos para entrada de novos talentos femininos.  

 

E os dados continuam alarmantes quando vistos por outro ângulo, como por exemplo, no sistema de empreendedorismo e inovação. De acordo com um estudo divulgado pela Forbes e realizado pela Female Founders Report, no Brasil, a proporção de empreendedoras femininas no setor está estagnada há uma década e apenas 4,7% de startups foram fundadas por mulheres em 2020. Esse abismo é ainda maior, ao analisar as startups fundadas por mulheres que recebem financiamento, a porcentagem não representa nem 1% (ARBEX, 2021). 

 

Diante desse panorama, uma pergunta se faz necessária: como podemos reverter o cenário atual e proporcionar às mulheres uma porta de entrada para o mercado de trabalho nas áreas da tecnologia e inovação?

 

Com certeza existem muitas formas de lidar com esse problema, entretanto a mais efetiva é por meio da Educação e a superação de barreiras sócio-culturais. Como exemplo disso, podemos citar os esforços da Arábia Saudita para estimular mulheres a empreender. O país passou a desenvolver políticas públicas para aumentar a diversidade e o desenvolvimento econômico e o resultado foi que entre 1.835 mulheres pesquisadas 31,9% tinham intenção de empreender (ALNEMER, 2021).  

 

Outro exemplo de incentivo às mulheres são eventos que trazem a tona o tema da representatividade feminina, como, por exemplo, o Startup Prudente, em Presidente Prudente, São Paulo, que é um evento que incentiva a inovação e o empreendedorismo, e que promoveu este ano o Meetup – Mulheres da Inovação, onde foi levantado a discussão sobre barreiras de gênero na tecnologia e a importância do estímulo às mulheres para liderança em inovação. O evento promoveu o lugar de fala para mulheres que enfrentaram os desafios no mercado de trabalho e conquistaram um papel de liderança em empresas de tecnologia, tornando-se referências para suas equipes de trabalho e trazendo a representatividade feminina para dentro de espaços que ainda são de predominância masculina (UNOESTE, 2022).

 

Uma das profissionais de TI presentes no evento, Vanessa dos Anjos Borges, também citou referências de mulheres nas ciências e inovação, iniciando a história com Ada Lovelece até chegarmos a Jaqueline Goes de Jesus, biomédica, doutora em patologia humana e pesquisadora brasileira que coordenou a equipe que sequenciou o genoma do novo coronavírus (SARS-CoV-2), em apenas 48 horas após a primeira confirmação de covid-19 no Brasil. A fala de Vanessa ressaltou a importância da representatividade feminina e como o tema está em destaque quando discutimos sobre a igualdade de gênero no setor tecnológico.

 

Já no meio corporativo, uma porta de entrada para as mulheres tem sido a promoção de equipes diversas. Mesmo que muitas empresas ainda não tenham aplicado ações efetivas para que isso aconteça, já é possível ver alguns dados que favorecem essa estrutura organizacional como, por exemplo, um estudo do Boston Consulting Group (BCG), que revelou que times diversos impulsionam a inovação e podem ter uma receita 19% maior do que equipes tradicionais (LORENZO, 2018). Os resultados positivos também se estendem às startups com mulheres no quadro societário, que tendem a ser 25% melhores que  as lideradas, majoritariamente, por homens. Isso ocorre, pois cada indivíduo traz sua vivência ao intelecto da empresa, tornando viável a troca de experiências e tomadas de decisões mais assertivas (CATHO, 2021).

 

Por tanto, a presença feminina na área de tecnologia, seja em empresas de tecnologia, à frente de startups ou liderando descobertas científicas não é algo recente. A história moderna está repleta de mulheres que contribuíram e contribuem, significativamente, para avanços tecnológicos. E tais contribuições só não são maiores  devido às barreiras sociais e culturais que desestimulam a entrada de novos talentos femininos e retardam o surgimento de novas ideias. Desse modo, a representatividade feminina, assim como a representatividade de outras minorias, não se pauta somente sobre aumentar o número de mulheres na área, mas sim sobre derrubar o estereótipo de que mulheres não trazem grandes contribuições. 

 

Escrito por: ADRIENNE OLIVEIRA MOTA

 

Referências

 

Petry, Guilherme. Conheça Ada Lovelace: matemática do século XIX autora do primeiro programa de computador. The hack, 2020 . Disponível em:  <https://thehack.com.br/conheca-ada-lovelace-matematica-do-seculo-xix-autora-do-primeiro-programa-de-computador/#:~:text=Seu%20envolvimento%20com%20tecnologia%20e>. Acesso em: 20 ago. 2022.

 

Miss, Gabriela Folmer. Ada Lovelace (1815-1852). Unicentro, 2021. Disponível: <https://www3.unicentro.br/petfisica/2021/07/02/ada-lovelace-1815-1852/>. Acesso em: 23 ago. 2022.

 

ALNEMER, Hashem Abdullah. Predicting start-up intention among the females of Saudi Arabia using social cognitive theory. World Journal of Entrepreneurship, Management and Sustainable Development, 2021.

 

UMOV. Mulheres na tecnologia. 2022. Disponível em: <https://www.umov.me/mulheres-na-tecnologia/>. Acesso em: 19 ago. 2022.

 

PWD. Women in Tech. 2022. Disponível em: <https://www.pwc.co.uk/who-we-are/women-in-technology/time-to-close-the-gender-gap.html>. Acesso em: 24 ago. 2022.

 

Arbex, Gabriela. Ecossistema de inovação tem apenas 4,7% de startups fundadas por mulheres. Forbes, 2021. Disponível em: . Acesso em: 20 ago. 2022. 


 

UNOESTE. Start Prudente estimula mulheres para liderança em inovação. 2022. Disponível em: <https://www.unoeste.br/noticias/2022/6/start-prudente-estimula-mulheres-para-lideranca-em-inovacao>. Acesso: 20 ago. 2022. 

 

Lorenzo, Rocío. How diverse Leadership Teams Boost Innovation. BCG, 2018. Disponível em: <https://www.bcg.com/publications/2018/how-diverse-leadership-teams-boost-innovation>. Acesso em: 23 ago. 2022.

 

CATHO. Diversidade no ambiente corporativo: entenda sua importância. 2021. Disponível em: <https://paraempresas.catho.com.br/diversidade-no-ambiente-corporativo/>. Acesso em: 23 ago. 2022.