A introdução e cultivo de plantas exóticas trazidas de outros países é uma prática de tempos longínquos e é comum em todo mundo, provocando impactos beneficentes e adversos junto aos serviços ecossistêmicos e meios de subsistência humana. Geralmente, essas espécies possuem alta capacidade de adaptar-se às condições ambientais, alcançando estabilidade escalar em diversos ambientes, principalmente, aos de clima tropical quente e em processo de degradação ambiental oriundo de atividades humanas motivadas por precedentes como expansão de fronteiras agrícolas, abertura de estradas, dentre outros.
Dessas espécies, têm-se os táxons do gênero Prosopis (Mesquites; Fabaceae). Popularmente conhecidos como “algaroba”, são nativos da África, Ásia, América do Norte e do Sul (AUNG; KOIKE, 2015) e apresentam um total de 45 espécies descritas que estão distribuídas em regiões áridas e semiáridas do planeta (BURKART, 1976; SANTOS, 2015), sendo a maioria destas encontradas em terrenos pertencentes às Américas. Dentre as espécies, cabe destacar, a Prosopis juliflora, com ocorrência natural no México, Peru, Venezuela, Colômbia e Equador, e introduzida no Brasil por volta de 1942 para a produção de forragem para o gado e madeira (RIBASKI et al., 2009).
A algarobeira apresenta grande resistência às condições ambientais adversas ao seu desenvolvimento, sendo de rápida propagação, quando comparada com espécies nativas - por exemplo, as do bioma Caatinga -, se espalhando por áreas não cultivadas e de vegetação nativa, o que ocasiona inúmeros prejuízos ecológicos e contribui para a perda da biodiversidade local (PEGADO et al., 2006).
Sendo usada em grandes proporções para múltiplos fins, nos países do continente africano e asiático destacam-se a utilidade das vagens de Prosopis juliflora como recursos alimentares para o gado (SAWAL, ATHAN; YADAV, 2004); para a produção de bioetanol de algaroba (SINDHU; GNANAVEL, 2016); para potenciais farmacológicos de Prosopis juliflora (UKANDE et al., 2019); dentre outros.
No Brasil, seu uso tem ocorrido como farelo de vagem em dietas para equinos (STEIN, et al., 2005); produção de chapas de partículas homogêneas (NASCIMENTO, et al., 2007); produção e utilização de cinza como matéria-prima alternativa para uso em blocos de solo-cal (MELO, 2018); fabricação de fermento biológico (ALVES, 2008); produção e venda de lenha, carvão e estacas na ribeira do Riacho do Navio, Sertão do estado de Pernambuco (SANTOS, et al., 2020); dentre outros usos em diversos lugares, como a produção de bebidas na Paraíba, onde se produz cachaça a partir das vagens (SILVA, 2009; SILVA et al., 2014).
A algaroba se apresenta como uma alternativa, com inúmeros benefícios, principalmente na alimentação de animais em épocas de secas, com poucos pastos, no entanto, é de grande importância o desenvolvimento de estratégias para o seu controle e manejo adequado em áreas cultivadas, evitando ou amenizando impactos negativos sobre a fauna e flora nativa.
Escritor por: PATRICIO RINALDO DOS SANTOS E MARILENE VIEIRA BARBOSA
REFERÊNCIAS
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STEIN, R. B. S.; TOLEDO, L. R. A.; ALMEIDA, F. Q.; ARNAUT, A. C.; PATITUCCI, L. T.; NETO, J. S.; COSTA, V. T. M. Uso do Farelo de Vagem de Algaroba (Prosopis juliflora (Swartz) D.C.) em Dietas para Eqüinos. R. Bras. Zootec., v.34, n.4, p.1240-1247, 2005.
MELO, M. C. S. Utilização de cinza de algaroba como matéria-prima alternativa para uso em blocos de solo-cal. 105 f. Tese Doutorado (Programa de Pós-Graduação em em Ciência e Engenharia de Materiais) - Universidade Federal de Campina Grande. Campina Grande – PB. 2018.
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